60% da água produzida em São Luís é desperdiçada
por Wilson Lima
(O Estado do Maranhão - 02/10/2011)
Estudo do Instituto Trata Brasil indica que hoje em São Luís 60% da água produzida é desperdiçada. Conforme a direção da Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão (Caema), esse é um problema provocado pela falta de micromedição, aliada ao grande número de ligações clandestinas e precariedade da rede de abastecimento. Em todo o Brasil, esse é o 7º maior índice de desperdício entre as capitais e o 13° nas cidades com mais de 300 mil habitantes.
Os dados tomam como base a produção da Companhia de Saneamento Ambiental do Maranhão de 2009. Naquele ano, de 101 mil quilômetros cúbicos de água produzida, apenas 40,6 mil foram faturados. O restante não chegou às torneiras ou foram usados em ligações irregulares. Ou seja, para cada três litros que foram produzidos, um não foi cobrado pela Caema.
Em São Luís, existem vários exemplos de pessoas que utilizam água de forma clandestina. Na Rua dos Faveiros, no São Francisco, todos os moradores do edifício Santa Luzia, onde moram aproximadamente 40 famílias ou cerca de 120 pessoas, não pagam água. Elas conseguem o produto por uma ligação subterrânea. O prédio foi abandonado há 23 anos e hoje é ocupado por sem-teto.
Ainda no São Francisco, todas as famílias que moram sob a ponte José Sarney conseguem água graças a uma ligação clandestina realizada pelas pessoas que moram na região. No local, as 30 famílias instalaram uma torneira de grande porte, para impedir que a água jorre indiscriminadamente pelo local. "É uma forma de sobreviver. Sabemos que não é certo, mas já que não podemos pagar pela água, achamos um jeito de consegui-la", disse um morador.
As ligações clandestinas não se destinam apenas a atender os sem-teto. No Renascença, na Rua das Limeiras, um lava-jato utiliza uma ligação clandestina como negócio lucrativo. Na manhã de quinta-feira, dia 29, O Estado tentou conversar com o dono do estabelecimento sobre as denúncias de uso irregular de água pelo posto, mas ele fez ameaças, inclusive à repórter fotográfica Flora Dolores.
Ele tentou trancar a fotógrafa em um terreno nas proximidades do lava-jato. Antes disso, ao avistar o carro de O Estado, ele disse: "Vão fazer essa reportagem em outro lugar". Ao ser questionado se existia algo errado no local, ele disse: "Vocês querem arranjar confusão, né?".
Rompimentos - Além das li-gações clandestinas, outro problema de desperdício de água na capital são os constantes rompimentos do Sistema Italuís e da rede subterrânea. Durante o ano-base de um estudo realizado pelo Trata Brasil, 2009, a tubulação do Italuís rompeu-se cinco vezes em 12 meses: média de um problema na adutora a cada dois meses e meio.
O estudo aponta o desperdício de água como um problema nacional. Entre as capitais e o Distrito Federal, a que detém o menor índice de desperdício é Brasília, com 25% de índice de água não faturada. Florianópolis (SC) segue na segunda colocação e Fortaleza (CE) na terceira. Vitória (ES) e Campo Grande (MS) fecham a lista das cinco capitais com o menor desperdício do país entre as capitais. O estudo não incluiu as capitais do Tocantins, Palmas, e de Roraima, Boa Vista, no estudo porque, na época em que houve o levantamento de dados, as duas cidades não tinham 300 mil habitantes.
Do outro lado, Porto Velho (RO) detém o maior índice de desperdício do Brasil, não somente entre as capitais. Na capital de Rondônia, de cada 10 litros produzidos, oito não são faturados. Rio Branco (AC) detém o segundo menor índice de desperdício do país e Macapá (AP), o terceiro. Estas duas últimas também têm percentuais de desperdício superiores a 79%.
No total, o Instituto Trata Brasil fez esse levantamento em 81 cidades com mais de 300 mil habitantes.
Em todo o Brasil, a cidade com o menor percentual de desperdício é Pelotas (RS), com apenas 10% de água produzida não faturada. Serra (ES) detém o mesmo rendimento que a cidade gaúcha e Santos é a terceira cidade com o menor percentual de água desperdiçada do país: 14%. Ponta Grossa (PR) e Campinas (SP) completam a lista das cinco cidades com o melhor aproveitamento de água do país. Os piores aproveitamentos de água do país estão, além de Porto Velho, Rio Branco e Macapá, em Belford Roxo e Duque de Caxias (RJ).
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